quinta-feira, 30 de abril de 2015

BRECHT SOB O CÉU DE BERLIM / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
BRECHT SOB O CÉU DE BERLIM

Olhem para mim, vejam bem!
Eu estou aflito.
Não consigo ficar quieto
diante da situação.
Se o tempo estiver bom,
eu saio à rua a passear;
se não estiver, eu saio também.
Não dá pra ficar quieto.
Olhem para o tempo.
Como estão as nuvens:
Claras ou turvas?
Ou não há nuvens?
Chove e faz frio
ou o calor é intenso?
Não importa!
Conforme a temperatura,
eu respondo à altura.
Não quero saber
se são nuvens de tnt
ou se neve suave de amanhecer.
Meus pés caminham...

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quarta-feira, 29 de abril de 2015

ASSIM É QUE NÃO DÁ / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
ASSIM É QUE NÃO DÁ

Vacilo alguns instantes
antes de alcançar papel e caneta
Estou meio confuso com tudo à minha volta
o ambiente é terrível
mas sou poeta e trabalho
com a realidade onde estou
Em meio a bêbados viciados
vagabundos e o comércio do corpo
não sei mais o que se vende mais
sei que eu passo a passo lento e sem pressa
como fumaça no filtro do cigarro
não sei se impregno ou se sou impregnado
Sei que nesse mar eu remo
entre os vendedores de pipoca
churrasco cachaça balas e doces
e ócio barato
onde o pato é o rato
que pula demais se atrapalha
e dorme na palha
E olho nenhum ignora o que vê
por mais espessa que seja a repulsa
cravada em suas retinas
e toda indiferença é inútil
e nós temos de nos dar as mãos
pra avançar
e todo isolamento se quebra
e o pântano é terra firme
pra caminhar
e o medo é experiência segura
a nos ensinar
que não dá pra cruzar os braços
e ficar olhando o próprio atropelamento

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terça-feira, 28 de abril de 2015

TELA / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS 
*
TELA

De que valem
     palavras
   gestos
    saltos
     gritos
se estamos sozinhos na briga 
Que fim levaram nossos antepassados
após tanta luta
                              em nome apenas da dignidade

Hoje  
      aqui
         agora
             nada consta a favor
Há uma só resposta para todas as perguntas
E tudo que se vê
é o cansaço e a imobilidade
dos corpos estirados na paisagem.

*

segunda-feira, 27 de abril de 2015

VIR / AÇÃO # DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
VIR / AÇÃO

Se virar
a noite inteira
na esteira poída
no chão frio
de terra batida
nas noites de insônia
nos atos de amor
nos braços amigos

Se virar
o ano inteiro
pra brincar o carnaval
fantasiado de som
cantando o samba da cor
num imenso porre de suor

Se virar, se virar
a vida
      vira
              tudo

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domingo, 26 de abril de 2015

LUTA CORPORAL / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
LUTA CORPORAL

Vivo num tempo feroz
em que as horas passam com as águas
e a vida esvai-se com o vento.
Busco desesperadamente a saída
mas as paredes nem se tocam...

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sábado, 25 de abril de 2015

SOLIDÃO / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
SOLIDÃO


                            A todos que têm 
                       certeza da sua 
                    importância
                       na minha via.

Estou só
no mundo
e neste momento
Sei que é inútil
gritar por socorro
Mas ainda assim
sem controlar a aflição
gostaria que alguém
qualquer ser humano
neste momento
viesse correndo
em minha direção
ansiando um abraço
bem forte
tão forte
que nos levasse
a sentir o calor de nossos corpos
e que isso nos assustasse tanto
que num gesto insólito
nos fitássemos hesitantes
reconhecendo em seguida
que fora apenas obra da emoção.

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sexta-feira, 24 de abril de 2015

O VELHO E A MATA / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
O VELHO E A MATA

Tarde da noite
um velho pensando na vida
vaga por uma floresta
temendo leopardos enamorados da lua.

Qual aprendiz de caçador,
arrepia-se todo ante as sombras
que se movem na penumbra.

Não mais o nariz lhe aponta o caminho,
mas a barba pontiaguda guia-o silenciosa
por entre espectros barulhentos,

que passo a passo se aproximam
impregnando-o de idades,
tornando-o tão velho quanto o tempo.

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quinta-feira, 23 de abril de 2015

O LIBERAL / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
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O LIBERAL

Um dia...
Um belo dia de sol
caminhando por ruas
aristocráticas
de uma cidade
de um país
certamente liberal
encontrei um amigo
o Rei Manuelini II
espojado no mármore
à entrada de um templo
e ao indagar-lhe
o porquê de ali estar
tive seguinte resposta:
- Sou o Rei Manuelini II !
Ok, respondi e me fui.

*

quarta-feira, 22 de abril de 2015

DIÁRIO / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
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DIÁRIO

À noite
ao recolher-se
tentou ordenar o dia
dar forma aos atos
explicar as omissões
enfim
dar o toque de classe
na obra-prima
que poderia ter sido o seu dia
No dia seguinte
acordou atrasado
Ainda tentou
recordar-se de alguma coisa
Inútil
Foi trabalhar
À noite ao recolher-se
repetiu o mesmo exercício
e adormeceu pensando o seu dia

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terça-feira, 21 de abril de 2015

GESTAÇÃO / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
GESTAÇÃO

O poeta
de repente
em desalento
dá um soco na mesa
suspira exausto
qual fêmea no coito
aguça a imaginação
como anzol na água
porém o verso não vem
estancou está preso
tão preso quanto lágrimas
de fingimento

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segunda-feira, 20 de abril de 2015

VOO CONTIDO / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
VOO CONTIDO

Qual egresso
regresso do voo
que não fiz
e pouso
te examinando
o semblante
e só então vejo
quanto és esparsa
Por isso
é que cansei
de voar

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domingo, 19 de abril de 2015

HABITANTE / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
HABITANTE

(Publicado no Suplemento Literário da Tribuna da Imprensa,
 no período Maria Amelia Melo)

Um viajante
         dentro de mim
                  procura
e como sempre encontra
    o que deixou para trás
Assim não há futuro
                   passado
ou presente
pois
as perguntas
estão nas respostas
e estas são 
                    enigmas

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sábado, 18 de abril de 2015

A ALMA DE LADY GODIVA / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS 
*
A ALMA DE LADY GODIVA

Minha alma está na carícia do vento,
no sussurro da chuva, no calor do sol,
investigando os mistérios do tempo,
segura como o pólen da flor
e o pigmento da pele, sem nada temer,
pronta para viver
docemente feliz
o delírio do prazer
montada em meu Pégaso
pelas avenidas do sonho.

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sexta-feira, 17 de abril de 2015

AUTOBIOGRAFIA / DUELO DE SOMBRAS * Antonio Cabral Filho - Rj

DUELO DE SOMBRAS
*
AUTOBIOGRAFIA

Sou um fragmento
que vaga
ao sabor dos ventos

Não tenho metas
nem venho 
de lugar nenhum

Minha origem
está em mim
tal qual meu fim

Quero apenas
ficar em paz
no meu canto

Não peço afeto
mas não se afastem,
sou apenas um fragmento...

*